Blog de Cultura Libertária

Barbárie é um texto, uma visualização, daquilo que ocorre nos novos e velhos mundos. Idéias libertárias, sem egocentrismo, sem a arrogância de velhos e novos arautos pseudo-libertários. Ação e Cultura alternativa, ecologia e solidariedade.







quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Perma-revolução: "um mundo pelo que lutar, e não simplesmente estar contra"

O declínio do movimento antiglobalização nos EUA e a incrível onda de apoio por parte dos anarquistas após a devastação do furacão Katrina, sugere que é possível um novo alinhamento político e tático na América do Norte.

Os anarquistas fizeram um trabalho admirável lançando ideais, táticas e discursos revolucionários no movimento anti-globalização. As campanhas dos reformistas tradicionais [por exemplo, aqueles que estão contrários a exploração em grandes fábricas] e grandes sindicatos [por exemplo, os caminhoneiros] foram seduzidos pela diversidade de táticas, o consenso, a descentralização baseadas nos grupos de afinidade e outros princípios básicos anarquistas. Pudemos vincular estas campanhas limitadas, dentro de nossa crítica global do Estado e do Capital, ao mesmo tempo em que mostrávamos as diversas pessoas às idéias e os sonhos da anarquia.

O último movimento "contra a guerra" [quem sabe talvez melhor descrito se dissermos "contra a guerra do Iraque"] foi um fracasso para os anarquistas norte-americanos, apesar de alguns esforços sérios por parte dos anarquistas de San Francisco. Engolidos e manipulados por grupos autoritários e coalizações não-revolucionárias, o último movimento contra a guerra se desfez rapidamente dos princípios e desaprendeu as boas práticas que fizeram os movimentos anti-globalização se tornarem tão dinâmicos e efetivos neste país. As convergências, os entrosamentos, os compartilhamentos de habilidades, os debates, as clínicas médicas, os comedores e as cozinhas livres, desapareceram do dia pra noite.

A participação nas marchas contra a guerra se converteram na atomizante e coreografada experiência de esquerdistas por todo o globo, aonde as pessoas foram levadas em ônibus à marchas, aonde se dava voltas agitando os penosos símbolos pré-fabricados por algum dos grupos implicados, aonde se escutaram tediosos discursos vazios, e aonde logo voltavam a embarcar no ônibus de volta pra casa, contentes, com o cumprimento de seu trabalho democrático.

A seqüela da débâcle do Estado em Nova Orleans que seguiu ao Katrina, mostrou que existe ainda uma presença ativa de anarquistas neste país. Espontaneamente, alguns grupos se mudavam a Nova Orleans e trabalhavam em suas próprias comunidades promovendo solidariedade. Os anarquistas foram os primeiros a ampliar a crítica da pobre resposta estatal, que lançava questões de justiça de raça, de classe, meio ambiente, e a militarização da ajuda estatal. Ainda há centenas de anarquistas trabalhando e movendo-se por NOLA [Nova Orleans]. A resposta anarquista representou as melhores práticas do movimento anti-globalização [e dos princípios anarquistas básicos]: entrosamento de habilidades, consenso, organizações descentralizadas, o realçamento das comunicações entre oprimidos, à ética do "faça você mesmo" e a convergência.

Ironicamente, talvez, agora aja mais anarquistas que durante o período antiglobalização, apesar da falta relativa de resistência pública dos anarquistas. Há definitivamente mais projetos anarquistas hoje que inclusive há alguns uns anos atrás: periódicos e revistas; centros sociais [lá chamados infoshops]; centros comunitários; webs; casas coletivas; sítios; etc., mas pouco na via da resistência ativa ao Estado o ao Capital. Esta falta de visibilidade e de ações inspiradoras tem causado que muitos anarquistas se desesperem e sintam que o "movimento" está em declive. Todavia, os anarquistas não têm desaparecido desde o 11-S, estamos ainda trabalhando em nossas comunidades e lançando novos projetos, mas há uma necessidade definitiva de re-enfocar nossos esforços.

Propomos que os anarquistas trabalhem com as comunidades no senil do petróleo, a permacultura e as bio-regiões, para nos prepararmos melhor para o novo alinhamento que a resposta ao Katrina tem sugerido. Nossa relação atual com as "comunidades de permacultura" [incluindo aqui todos os grupos e indivíduos orientados pelo senil do petróleo, os problemas ambientais e de crises energéticas] é similar às relações que constituíram o êxito do movimento anti-globalização [relações com campanhas contra empresas que exploram o terceiro mundo, sindicalistas de base, gente do Earth First etc.].

A maioria dos permaculturistas são liberais/esquerdistas e muitos compartem nossas crenças, inclusive ainda que não se chamem anarquistas a si mesmos. Em sua maior parte estão implicados politicamente no nível local e optam por uma alternativa opondo-se a um modelo confrontacional para tratar com o Estado e o Capital. Isto vêm de uma posição relativamente privilegiada que têm muitos permaculturalistas na sociedade em geral. Inclusive chegou a haver uma corrente de "capitalismo verde" em muitas eco-aldeias e comunidades permaculturais.

As pessoas no senil do petróleo e o povo orientado para outras crises tendem a ter uma opinião mais radical e crítica sobre o Estado e o capitalismo global; sem dúvida, seus esforços são geralmente acadêmicos ou marginalizados. Cremos que estas pessoas são nossos aliados naturais no novo alinhamento das coisas. Têm uma infra-estrutura impressionante e habilidades e táticas úteis para tratar com crises de uma forma sustentável. Juntos podemos mostrar as pessoas que há mais alternativas que reconstruir a Babilônia, e que nas crises surgem oportunidades para resistir ao poder mortal do Estado e do Capital. Além do mais, os permaculturalistas são nossos aliados naturais porque compartilhamos muitos princípios organizativos básicos com eles, entre eles: ênfase em compartilhar habilidades; ética de trabalho faça você mesmo; horizontalidade [às vezes]; consciência ambiental e modelos baseados na tomada de decisões consensuais.

Cremos que ao combinar nossos recursos, idéias, sonhos e paixões, podemos desafiar genuinamente a hegemonia do Estado e do capitalismo, especialmente nas áreas afetadas por crises inevitáveis. Sabemos que essas crises afetarão desproporcionadamente mais as pessoas pobres e as comunidades privadas do direito de decidir sobre seus assuntos, comunidades com as quais os anarquistas têm estado trabalhando durante décadas. Os anarquistas podem prover uma ponte especial entre as filosofias do sustentável e as habilidades dos permaculturalistas e das comunidades, aonde estas habilidades podem ser mais efetivas em criar um novo mundo sustentável.

Os anarquistas necessitam aprender dos companheiros permaculturalistas as habilidades que nos permitirão ajudar as pessoas que mais o necessitem, quando o Estado e o Capital renunciem a fazê-lo. Necessitamos aprender a criar zonas autônomas sustentáveis que possam desafiar seriamente ao poder do governo e do capital. É uma estratégia em longo prazo, e o tempo se esgota, assim que devemos atuar com decisão e diligência. Devemos por mais ênfase nos contatos que já temos com as comunidades permaculturalistas visando criar novas alianças. Os anarquistas necessitam apoiar aos permaculturalistas radicais, aqueles que já estão lutando contra a "cooptação" de sua comunidade, aqueles que se opõem ao "capitalismo verde" e ao reformismo meio-ambiental. É trabalhando com tais radicais que esperamos conectar o local com o global, e mostrar que qualquer alternativa verdadeira necessita estar em confronto com o status quo.

Assim, segundo as crises ambientais, energéticas, econômicas e políticas comecem no horizonte, a posição privilegiada dos permaculturalistas se verá comprometida e se verão forçados a tomar partido na luta contra o capitalismo. Através do apoio mútuo e da implicação ativa, confiando no companheirismo que tenhamos construído com os permaculturalistas radicais, seremos capazes de convertermos em uma força, por uma mudança ativa. Junto com os permaculturalistas podemos lançar ao anarquismo com uma nova visão mais poderosa que a do movimento antiglobalização, uma visão que mostre um mundo pelo que lutar, e não simplesmente estar contra.


Até a perma-revolução!
Spring To Action Collective - NYC
Fonte:http://deriva.com.br/deriva.com.br?page=shop.product_details&flypage=flypage.tpl&product_id=30&category_id=6&option=com_virtuemart&Itemid=54

domingo, 8 de agosto de 2010

Editorial Barbárie Julho de 1979


Vivemos uma era de violência institucionalizada; do massacre indiscriminado de grupos, populações inteiras e de indivíduos. O meio é a violência em nome do progresso e da civilização. Desse modo, vemos as populações indígenas sendo sistematicamente expulsas de suas terras, preparadas para a “emancipação” e integração na sociedade brasileira e transformando-se em mercadorias – objetos do jogo e do julgo do mercado – enfim, sujeitos a todo tipo de exploração, seja privada ou estatal.



Assim sendo, assistimos, ao assustador desmatamento da Floresta Amazônica para o lucro e interesse particulares com a conivência do Estado, levando à destruição uma das maiores reservas naturais do mundo, pondo em risco o equilíbrio ecológico de toda a América do Sul.



Hoje em dia, outro dos graves problemas que ora atravessamos é o da poluição das águas dos rios, represas e mares que, conduzirá a nível internacional no futuro, a uma crise mundial.



O crescimento da “marginalidade” que assombra aos “donos do poder” e o seu combate para exterminá-la na forma as mais desumanas, através da polícia e outras instituições autoritárias (presídios e campos de concentração), transformam os indivíduos em “feras” ao invés dos “belos” propósitos do Estado em “re-educá-los”.



A Barbárie, nesse primeiro número, gostaria de tratar o mais profundamente possível a todos esses problemas apresentados, fora outros, ainda não sugeridos aqui. Mas, para isso, seriam necessários centenas ou milhares de páginas algo difícil, dado as condições financeiras. Sendo assim, assumimos o compromisso de realizarmos essa tarefa, na continuação desse nosso trabalho. Entretanto, não esqueceremos de uma parte cultural, onde a poesia, o desenho, o conto, etc... terão a mesma importância e o destaque que qualquer outro assunto a ser tratado por nós.



Ao lado disso, gostaríamos de destacar a presença dos movimentos de reação a toda essa forma institucionalizada de terrorismo, além de propormos o debate em torno de propostas libertárias alternativas a essa situação.



Em oposição à “barbárie” destruidora do mundo atual, contrapomos outra, que nascerá dos escombros dessa primeira. Ao invés do trabalho escravizado, propomos o “direito à preguiça”, o trabalho livre e associativo, autogerido. Ao controle dos nossos corpos pelos poderes (pais, educadores, médicos, etc.) sugerimos o direito de dispormos de nossos corpos e dele retirarmos todos os prazeres. Em oposição à civilização moderna, burocrática e hierarquizada, propomos a “Barbárie” criadora. E Libertária.



Coletivo Barbárie



PS - Com esse editorial circulava em julho de 1979 no meio universitário baiano o primeiro número da revista Barbárie .

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Bárbaro é o ano 1, n. 1, ago/2010

O tempo do agir nas pequenas comunidades
Na ausência de moral, leis, castigos
Na ausência de guerras, conflitos,
Nem espírito de competição ou
Vontade de dominação